Fatores que influenciam o Agronegócio

Categoria: Administração Rural | 07.02.2019 | sem comentários



Enquanto atividade econômica, a agricultura está associada a um amplo contexto, onde uma infinidade de variáveis condiciona tanto os resultados tecnológicos como a rentabilidade e lucratividade. Conforme considerações de Andrade (1996), alguns destes condicionantes são considerados de natureza técnica, e outros de natureza institucional e humana.
Dentre os aspectos físicos que podem impactar a produção agropecuária pode-se citar: a) oscilações meteorológicas: precipitações, ventos, geadas, alterações de temperatura, calor, luminosidade, etc.; b)características do solo – topografia, fertilidade, profundidade, permeabilidade e grau de erodibilidade, etc.; c) recursos hídricos: disponibilidade de água em quantidade necessária, qualidade aceitável, com a periodicidade pertinente. Tais características determinam a necessidade de drenagem ou irrigação para as culturas; d) disponibilidade de infra-estrutura: máquinas, equipamentos, ferramentas, edificações e construções rurais, animais utilizados no processo produtivo, etc.; e) localização – distância da propriedade agropecuária com relação ao mercado facilitando o acesso a compra de insumos ou a venda dos produtos finais.
Além desses fatores, as pragas e doenças no cultivo agrícola, bem como as doenças e as enfermidades nos animam, são condições biológicas fora do pleno controle humano, que influenciam o sucesso da agropecuária. Outros condicionantes biológicos podem ser representados pelas diferentes espécies ou qualidades de sementes e animais. Andrade (1993) menciona as condições institucionais e humanas que estão fora do controle ou do poder dos agentes produtivos. Tais características podem ser consideradas como exógenas ao processo produtivo, mas que impactam fundamentalmente o seu desenvolvimento.
O sistema de comercialização (transporte e armazenamento dos produtos), as normas e crenças do ambiente institucional, as oportunidades de emprego e a remuneração de atividades fora do meio rural bem como outras oportunidades de mercado (afetando a oferta e a demanda de produtos agropecuários) podem ser consideradas neste item.
Destaque deve ser dado ainda, ao importante papel das políticas públicas: oscilações nos preços mínimos, políticas de subsídios, acesso a crédito, concessão de incentivos regionais ou a determinadas culturas/atividades. Ao mesmo tempo, alterações macroeconômicas no próprio ou em outros países, podem afetar a atividade agropecuária, sem que haja qualquer possibilidade de interferência por parte do produtor rural.
As características endógenas à propriedade agropecuária são também listadas por Allwann (1993, p.154): trabalho familiar, habilidade administrativa, educação, conhecimento e determinação de objetivos. Além destas, outras características também podem ser citadas como intrínsecas à atividade agropecuária. Entre elas, pode-se mencionar o caráter estacional, que condiciona tanto os aspectos técnicos como econômicos.
Destaca a demanda de insumos produtivos e outros fatores concentrados em determinado período do ano, tais como a sazonalidade da demanda por crédito, problemas de comercialização (armazenagem, conservação, transporte e oscilações de preço), perecibilidade de alguns produtos (que deprime a renda do produtor, através da diminuição do seu poder de barganha frente aos compradores) e a irreversibilidade do processo produtivo.
Todos os mencionados fatores impactam não somente o tipo de cultura ou criação a ser desenvolvido pelo produtor, como também a produtividade por ele alcançada e a sua rentabilidade/lucratividade. Muito embora a listagem não seja exaustiva, todos os determinantes podem ser considerados, de certa forma, um reflexo estático do ambiente em que está inserido o produtor agropecuário. Torna-se importante considerar não somente os ambientes atuais, como também os potenciais distúrbios no “status quo” produtivo, motivados por eventos ou concorrência potencial. Neste sentido, é necessário considerar não somente a concorrência existente em determinado momento do tempo, como também a pressão feita por outros agentes econômicos, que acabam refletindo-se internamente à empresa.
As figuras abaixo apresentam os fatores de natureza técnica (figura 2) e os fatores de natureza institucional e humana (figura 3) listadas por Allwann (1993, p.151).

Determinantes Técnicos de um sistema agrícola – Fonte: Adaptado de Allwamnn, 1993, p 151.
Determinantes institucionais e humanos principais de sistema agrícola – Fonte: Adaptado de Allwamnn, 1993, p 152.

Assim, a interação e as conseqüências de cinco “forças” de concorrência descritas por Porter (1992, p.5)  devem ser introduzidas na análise da produção agropecuária. São elas: (a) rivalidade entre os concorrentes já estabelecidos na própria indústria; (b) poder de negociação dos fornecedores de insumos; (c) poder de barganha dos compradores; (d) ameaça de entrada de novos produtores no setor; refere-se à existência de barreiras ou fatores impeditivos à entrada de novos concorrentes na mesma indústria, alterando a incerteza do ambiente em que as firmas estão inseridas; e (e) existência de produtos substitutos fabricados em outras indústrias.

Analisando especificamente o caso da agricultura, Meira (1996, p. 37), considera o ambiente agropecuário como “adverso ao produtor rural”. O autor considera a existência de uma “conspiração das cinco forças competitivas”: número elevado de produtores agropecuários convivendo ao lado de fornecedores de máquinas, equipamentos e insumos agrícolas com alto poder de negociação e compradores de produtos agropecuários (atacadistas, cadeias de supermercados, agroindústrias e comerciantes locais).
Além destas desvantagens, o produtor rural depara-se com a ameaça constante de entrada de novos produtores, dadas as baixas barreiras à entrada e os elevados custos de saída da atividade agropecuária, fator este que leva os produtores a permanecerem neste setor mesmo sem a obtenção de retornos satisfatórios. Destaca também a concorrência com produtos industriais sintéticos.

Objetivos dos Produtores Rurais

As primeiras tentativas de compreensão da função otimizada pelo empresário rural consideravam como seu objetivo a maximização do lucro, seguindo os preceitos da microeconomia neoclássica. Foram desconsiderados aspectos relacionados às características pessoais do produtor, como a situação familiar e o ciclo de vida pessoal e da exploração produtiva. Também não foram levadas em conta a capacidade e a disposição para a mudança, tendo em vista a adaptação da infra-estrutura aos novos processos produtivos, os custos pessoais em termos de aprendizagem e de saída das atividades.
Miranda (1998, p. 202), lembra que dentre os objetivos do produtor rural, deve-se considerar não somente o desenvolvimento econômico fundamentado no “crescimento agrícola – principal base produtiva do meio rural, mas sim num equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, o humano e o social”. Assim a administração rural não pode deixar de visar a melhoria do bem-estar e da renda líquida familiar, o aumento no valor do patrimônio e a manutenção de uma imagem satisfatória do produtor rural perante a sociedade.
Assim, Alberto (1991, p.20) conclui que “a falta de sintonia entre as visões dos extensionistas e dos produtores rurais pode ser compreendida como uma das explicações para o perfil conservador destes últimos ao preterirem muitas vezes a opinião dos técnicos”.

Referências Bibliográficas sobre Agronegócio

ALLWANN, J. Introduction to economics of agricultural development.New York: McGraw-Hill, 1993. cap.9, p.149-166: Comparative agricultural systems and the role of women.

ALBERTO, L.A. A necessidade de um enfoque de administração rural na pesquisa e extensão rural. In: Semana de Atualização do Administração Rural, Lages, 1991. Anais.Florianópolis: SAA/EPAGRI/CTA do Planalto Serrano Catarinense, 1992. p.7-21.

ANDRADE, J.G. Introdução à administração rural. Lavras: UFLA/ FAEPE, 1996.

BRUDDER, A. Qual a vocação produtiva da agricultura familiar? Globalização, produção familiar e trabalho na agricultura. In: TEDESCO, J. C. (Org.) Agricultura familiar: realidades e perspectivas. Passo Fundo: EDIUPF, 1999. cap. 6, p. 219-249.

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MEIRA, J.L. Sucesso econômico e perfil estrategista empreendedor de produtores rurais: o caso Nilo Coelho. Lavras, 1996. 76 p. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior deAgricultura, Universidade Federal de Lavras.

MIRANDA, D. Associativismo rural, agroindústria e intervenção: estudo de caso de uma associação de produtores familiares. Lavras, 1998. 202 p. Dissertação (Mestrado) – EscolaSuperior de Agricultura, Universidade Federal de Lavras.

PASSOS, N. Práticas administrativas em uma associação de pequenos agricultores no Rio Grande do Sul. Lavras, 1993. 69 p. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior de Agricultura,Universidade Federal de Lavras.

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